Origens da Praxe Académica
A actual praxe académica, tem como base a polícia universitária (ou "foro académico). A sua organização era constituída por alunos, e a hierarquia definida pela antiguidade dos mesmos na universidade. O seu papel era o de zelar pela ordem no campus, e fazer cumprir as horas de estudo e recolher obrigatório por alunos e professores, sob pena de prisão, sobrepondo-se às autoridades oficiais. Com estas responsabilidades, misturavam-se rituais de iniciação (ou "investidas"), para os novos alunos, recém-chegados - os caloiros - à universidade.
Pouco mais é conhecido destes rituais, até que em 1727, devido à morte de um aluno, D.João V a proíbe: "Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."
Com o fim da polícia universitária em 1834, os estudantes decidem criar uma adaptação desta tradição e recuperar os rituais de iniciação. Assim, após o toque da "cabra" - o sino da torre da Universidade - patrulham as ruas da cidade, em busca de "infractores". No final do século XIX, surgem novamente relatos de violência entre estudantes, relacionados com os rituais de iniciação, onde os novos alunos eram obrigados a cantar e dançar, e em que era também frequente cortar-lhes o cabelo. Num destes episódios, um dos praxistas é morto por um caloiro.
A praxe foi entretanto interrompida durante alguns períodos como a Implantação da Républica e a Primeira Guerra Mundial.
Do século XX à actualidade
Durante o século XX, a praxe académica desempenhou um papel de luta contra o salazarismo, e a Guerra Colonial. As consequentes represálias, culminaram no Luto Académico em 1969, que levou à suspensão de todas as actividades. Com o fim do regime a 25 de Abril de 1974, a praxe regressou a Coimbra e espalhou-lhe pelas restantes universidades de Portugal, na década seguinte (anos 80). A Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, nunca voltou a re-implantar a tradição, sendo um caso único no país. No entanto, alguns dos seus alunos, são por vontade própria praxados por outros alunos das faculdades de Medicina, Ciências e Letras. Estes alunos são frequentemente discriminados pelos outros alunos de Belas-Artes. Na cidade de Lisboa a adesão á praxe tem aumentado mas lentamente, devido também em parte á dimensão da propria cidade e ao facto de não ser uma cidade académica, como Coimbra ou Évora. Um caso de sucesso é o da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, regindo-se por um código de praxe proprio e tentando respeitar e reavivar a tradição. Têm sido frequentes os relatos de violência física e psicológica cometidos sobre os 'caloiros', tanto nas grandes universidades como nos establecimentos de menor dimensão. Os movimentos anti-praxe que entretanto surgiram opõem-se às tradições da Praxe, remetendo para aspectos obscuros e desonrosos destas tradições. Afirmam que o número de relatos é inferior ao número de incidentes que realmente acontecem, enquanto que aqueles vinculados à Praxe negam vigorosamente. Assim a sociedade vê-se também dividida entre as duas versões, mantendo-se o actual status quo.
Traje académico
O traje académico actual, também apelidado de "capa e batina", é composto por um casaco longo (a batina), colete, camisa branca, calças simples, sapatos simples, e por uma capa, que deverá tocar no chão, quando colocada sobre os ombros, sem dobras. Esta é a indumentária reservada aos homens, que podem também usar um gorro simples, mas cujo uso não é permitido às senhoras. Estas, em vez da batina, usam um casaco pela cinta, mas não cintado, uma camisa branca, uma saia travada e abaixo do joelho, meias compridas, pretas e não opacas, sapatos simples, e uma capa igual à dos homens. Todas as peças, à excepção da camisa, são pretas, a cor que simboliza a igualdade entre os estudantes. Contudo, o traje académico não é igual em todo lado: na Universidade do Minho, por exemplo, as calças do traje masculino não são compridas, mas sim pelo joelho, enquanto que, em vez de um gorro, se usa o "tricórnio", um chapéu de três bicos, ostentado por ambos os sexos; na Universidade do Porto, algumas mulheres usam meias compridas transparentes e não pretas, como são os casos do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) (que as usam pois mantém a cor original das meias usadas inicialmente pela Universidade a que pertencem - UP), e o caso das Orfeonistas, que as usam para se destacar, pela honrosa instituição à qual pertencem; na Universidade do Algarve, o traje académico adoptou a cor azul escuro, o chapéu "Infante" de largas abas (homenagem ao Infante D. Henrique), as senhoras, uma saia rodada comprida, e os senhores, umas plainas vincadas, com quatro botões na canela e quatro botões na braguilha.
As origens do traje académico masculino remontam ao século XVI, e sua principal função era esbater as diferentes origens sócio-económicas de cada aluno, sendo assim uma forma de promover a igualdade entre todos. Aliás, e apesar de hoje ter atingido um significado mais simbólico, ainda é esse o seu principal objectivo, se bem que nem sempre é assim entendido. Supôe-se que o traje feminino, tenha surgido na Universidade do Porto, em 1920.
Ao final dos estudos está geralmente associado o "rasganço" de toda a indumentária académica, com excepção da capa e da pasta académica, que assim acompanham o resto da vida do antigo estudante. Hoje em dia, são raros os estudantes que fazem, de facto, o "rasganço", devido ao peso sentimental atribuído ao traje, no final do curso. Dá-se, então, um "rasganço" simbólico através da "probição" de se voltar a vestir o traje, usando-se apenas a capa - esta é a indumentária mais característica dos Veteranos, os alunos mais velhos.
Fitas
O uso da pasta académica só é permitido a partir do momento em que se deixa de ser caloiro. Contudo, o aspecto que a ela está mais associado são as Fitas. Estas são impostas ao estudante antes de este iniciar o último ano do seu curso. São oito fitas ao todo, da cor da faculdade/instituto/escola superior de cada estudante, identificando-o como um Finalista. Esta tradição remonta a meados do século XIX, quando as pastas eram compostas por duas partes independentes, e que eram mantidas unas com recurso a estas fitas.
A "Queima das Fitas" tem as suas origens nas celebrações que se faziam aquando o final dos cursos, onde os Finalistas queimavam as suas fitas dentro de um penico. Tal como o "rasganço", aplicado ao traje académico, a "Queima das Fitas" é também um momento de despedida da vida de estudante. Terá sido iniciada em Coimbra, e é actualmente um dos maiores acontecimentos do calendário académico, em todas as cidades universitárias do país.
2 comentários:
Só para dizer que as Orfeonistas não usam meias transparentes para se destacarem, mas sim porque, tendo o traje feminino sido inventado por uma Orfeonista com meias transparentes, não há qualquer razão para o mudar, mantendo o original, tal como as alunas do ICBAS=)
Sobre o foro académico:
http://notasemelodias.blogspot.pt/2012/08/notas-ao-foro-academico.html
Sobre Tradições Académicas:
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