sábado, janeiro 27, 2007

Porto calmo de Abrigo, um presente melhor.
Talvez tenha a obrigação para comigo de comemorar, mas só a partir e a acabar aí.
Não sei falar de cor.
Procuro um modo confortável de estar em vida, que pelo decorrer de definições pessoais, em nada se liga como conformismo comodista de alguém que regra os momentos de felicidade correndo o risco de lhe “sair o tiro pela culatra”, pois o seu anjo da guarda juntou-se a outros tantos para tentar motivar Deus a comparecer ao Natal do próximo ano.
Pois é, nisto, e sem o meu anjo da guarda, lá passei pelo meu aniversário como se nada fosse, mas desta vez sem lágrimas, pois esta data está praticamente apagada da minha vontade.
Passei pelo Natal num Restaurante Chinês a comer uma sopa improvisada…nada má.
A passagem de ano, muitos não a comemoram, embora seja das festas a mais impessoal, e por isso menos pesada, menos susceptível a maus sentimentos.
Pergunto-me se terá sido pelos momentos desagradáveis que se geram nestas datas forçadas, que as tendo a abandonar. Mas no fundo sei que não é isso.
Apenas não gosto de falar de cor.
Não gosto da rotina.
Reinventem-se comemorações, ou então, comemore-se todos os dias, não datas que nada mais são do que ficção, mas sim o simples acto de estar vivo, pois marcar data para se estar feliz é tormentoso, e uma responsabilidade acrescida para quem já percebeu que a vida não se tem na mão…por isso abra-se champanhe e beba-se um copo todos os dias.
Isso éo que faço quando saboreando o meu desabafar aqui, escrevo, sem mais nada, ao som de algo motivante, sem a regra de tomar algo, muitas vezes, sem som, pois impor hábitos é delimitar a existência.
Daí não comemorar hoje 1 ano de blog…Afinal, o que devo eu ao Ano?

domingo, janeiro 21, 2007

Nos últimos dias, tive oportunidade de me pôr à prova e de tirar novas elações acerca de um Futuro próximo, pois abriu-se uma janela no meio do vazio que bloqueava a porta.
Ainda há pessoas que não se transformam em demónios face à felicidade alheia. Mas a maioria não escapa ao hábito maligno.
Ainda há pessoas que se esquecem de escavar em busca de motivos em si para se evidenciarem.
Amam o respeito pelo próximo e a sua companhia, por motivos de raiz bíblica, para bem da ordem e do conforto social.
Amam estar bem com a sua consciência. Amam ser agradáveis só pelo prazer de o serem, valor que possuem, valor que um dia foi dado pela genética ou pelo desastre.
Renascimento
Renascimento foi o nome utilizado pelos historiadores do século XIX para designar uma evolução mais segura e firme das mentalidades e da cultura europeias, ocorridas no período histórico compreendido entre os inícios do século XV e finais do século XVI.
As origens do Renascimento são bem definidas, e os factos claros. Graças a investigações recentes, ficámos a conhecer melhor as circunstâncias especiais que ajudam a explicar a génese do novo estilo, precisamente em Florença e no início do século XV e não noutro lugar ou noutra época qualquer.
Por volta de 1400, o Estado florentino enfrentava uma séria ameaça à sua independência.
O poderoso Duque de Milão tentava dominar toda a Itália e já tinha subjugado as planícies da Lombardia e a maior parte das cidades-estado da zona central. Florença constituía o único obstáculo sério à sua ambição: a cidade opôs-lhe uma rigorosa e bem sucedida resistência em três frentes, militar, diplomática e intelectual. Se o Duque aliciara eloquentes partidários, como o novo César que trazia ordem e paz aos italianos, Florença, por seu lado, conseguiu ter por si a opinião pública, ao proclamar-se defensora da liberdade contra a tirania sem freios.
Leonardo Bruni, falando como cidadão de uma República livre, pergunta por que razão, de todos os estados da Itália, só Florença fora capaz de desafiar o poder superior de Milão, e encontra a resposta nos méritos das instituições, nas realizações culturais, na situação geográfica, no espírito do povo e até nas raízes Etruscas da sua Pátria.
As artes plásticas foram tidas por essenciais para o ressurgimento da alma florentina. Na Antiguidade e na Idade Média tinham sido irmanadas aos ofícios artesanais ou “artes mecânicas”. Ora não foi por acaso que a primeira declaração explícita a reclamar para elas a honra de serem incluídas entre as “Artes Liberais” se deveu ao cronista florentino Filipo Vilani, c.1400. Um século mais tarde, já esta promoção dos artistas se tornara corrente em toda a Europa Ocidental.
Que importância tinha esta valorização social?
Desde Platão, as artes liberais compreendiam tradicionalmente as disciplinas julgadas necessárias à educação do homem culto, como a Matemática ( incluindo a teoria da Música) a Dialéctica, a Gramática, a Retórica e a Filosofia: as Belas Artes ficavam excluídas do grupo porque eram “trabalho manual”, a que faltava uma base teórica. Mas desde que o artista passou a ser considerado digno de entrar para esse escol intelectual, torna-se necessário redefinir a natureza do seu trabalho. Então reconheceram-lhe a categoria de homem de ideias, acima do simples artífice manipulador de materiais; as obras de arte, encaradas como expressão visível do seu espírito criador, deixam de ser julgadas pelos padrões rígidos do Artesanato.
Em breve, tudo o que saísse das mãos de um grande mestre seria avidamente coleccionado. E, a par, modificaram-se as perspectivas intelectuais do Artista: no convívio com poetas e letrados pode ganhar saber e cultura literária, torna-se capaz de escrever poemas, auto-biografias, tratados teóricos. Entre os artistas que alcançaram uma posição social de relevo, afirmaram-se em especial dois tipos contrastantes de personalidade: a do homem do mundo, senhor de si, cortês, à vontade no ambiente aristocrático, e a do génio solitário, reservado, excêntrico, dado a crises de humor melancólico e a conflitos repetidos com os seus patronos. Caso notável este de se ter implantado com tanta rapidez um conceito tão moderno da Arte e dos Artistas na Florença da primeira fase do Renascimento, ou Proto-Renascimento.
Tendo em conta que este estilo nasceu de uma viragem sem sombras para ocultar a liberdade dos Homens da época é pertinente chamá-lo de “O Renascimento”, pois foi uma mudança decisiva ainda que não de cento e oitenta graus, pois existiram “Renascimentos”, seja, viragens, transformações, em épocas anteriores, que contribuíram irrefutavelmente para este ponto culminante, como na Idade Média. Aí, a partir do Ano Mil, em que um conjunto de circunstância favoráveis permitiu a inversão do quadro negativo. O súbito regresso à paz permitiu um ambiente social de maior estabilidade e segurança, na qual surgiram os Burgos - as cidades medievais – eram já símbolos do renascer da Europa, abrindo as feiras e mercados mais prósperos e , à sombra das suas igrejas episcopais, as Colegiadas e Universidades de maior renome por onde passou toda a renovação cultural que proporcionou o Renascimento da Idade Moderna.
Outro renascer que se deu ainda na Idade Média for no século XII, que teve como berço a Ilê de France, coração do reino de França, e remata o lento crescimento económico e o tímido renascimento cultural e artístico da época românica, o aparecimento e posterior desenvolvimento da arte gótica estiveram indissoluvelmente ligados aos maior dinamismo conjuntural dos finais da idade Média, período apelidado por alguns como o da “bela Idade Média”.
Podemos então concluir que este renascer de mentalidade, não é repentino, naturalmente, mas antes, o «Colher da Flor», que se vinha formando época após época.

sábado, janeiro 06, 2007


Conceito de Monumento


A origem da palavra “monumento” vem do verbo latino monere, que significa tanto “fazer recordar” como também “instruir”.
Este significado remete-nos para a importância do monumento enquanto memória do significado de um determinado conjunto de indivíduos, no que toca à evolução histórica, pois como herança colectiva tem um duplo valor e um significado especial, já que nos permite situar no nosso tempo, estabelecendo uma relação de continuidade entre o nosso passado e o nosso presente.
Perante esta herança Patrimonial, a comunidade tem a responsabilidade de a preservar, utilizar e valorizar. Por isso é necessário conhecê-la em profundidade para podermos intervir e usufruí-la da melhor maneira, de modo a transmiti-la ainda mais qualificada e enriquecida às gerações vindouras. Cada geração se confronta com o Património do passado perante o qual tem responsabilidades de preservação, ao mesmo tempo que realiza a sua própria produção contemporânea, que virá também a constituir o Património do Futuro.
O Património assume diversas formas de acordo com as várias manifestações culturais e o programa material e estético de cada um dos campos de realização e intervenção, da Arquitectura aos objectos, passado pela produção teórica, existe um vasto leque de bens monumentais que assumem identidades próprias e devem ser estudadas à luz dessa especificidade e lidos com base nos conceitos a partir dos quais se materializaram.
Por natureza específica, toda a obra de arte é um testemunho histórico, pois como produto da época que a fez nascer, ela traz toda a informação técnica, material e formal dessa mesma época. Ela é também um reflexo da mentalidade e das potencialidades da sociedade que a produziu, ou em cujo contexto ela foi criada.
O suporte físico e o tipo de produtos ou materiais usados numa obra de arte são dados referenciais de um determinado tempo histórico. Por exemplo ao analisar uma pintura rupestre do início do Paleolítico (fig.1), o desenho das figuras é espesso e modelado e as formas aproveitam as saliências das rochas, enquanto que no final do Madalenense aparecem figuras que utilizam o vermelhão, os tons violáceos, os alaranjados e o bistre, que serve para cercar as figuras (fig.2), assim como ao analisar a escultura egípcia do Império Antigo observamos uma representação realista e pormenorizada da cabeça, e o corpo mais negligenciado (fig.3), sendo que na época ptolomaica a escultura é um compromisso entre a arte grega e a egípcia e não mais aparecerá o vigor, a força e o poder da arte do Império Antigo (fig.4). A análise de elementos físicos e materiais pode dar-nos informações históricas preciosas, e leva-nos quase sempre à datação aproximada ou precisa de uma determinada obra de arte comportando-se esta como documento e consequentemente monumento.
Também um monumento histórico é um monumento artístico, já que a arte é uma condição de humanidade, pois está inerente à actividade humana.
Em oposição aos primórdios da valorização do monumento, em que vigorava um ideal artístico absolutamente objectivo, no século XIX emancipam-se todos os períodos artísticos e abandona-se o tal ideal artístico objectivo, dando-se lugar no século XX a uma análise da arte sobre o seu próprio universo, interrogando-se a si própria, o seu valor e significado. Assim o ideal de perfeição é posto em causa e os meios técnicos tanto podem contribuir para atingir um determinado conceito de beleza como para a questionar.
Num panorama tão vasto e diverso como o da nossa contemporaneidade, a delimitação do campo da obra de arte e do fenómeno artístico é cada vez mais imprecisa sendo o valor monumental cada vez mais alargado, e tendo em conta que toda a realização humana pertinente dentro de determinado objectivo é arte, o valor de monumento, alarga-se a praticamente todas as coisas derivadas do Homem, assim como o conceito de arte, fundindo-se os dois conceitos num só.
Este conceito mede-se muitas vezes, dentro da esfera pessoal, pela proximidade ou semelhança com valores vigentes, pelo facto da compreensão ser imediata, residindo tal comodismo num défice de educação para o culto do monumento enquanto valor necessário a um presente justificado.
Dado isto, não poderá existir um valor artístico (e monumental) eterno, já que assistimos a uma constante mudança de valores, mas apenas relativo, sendo este não um valor rememorativo, mas um valor de pertinência dado a aceitação de determinada contemporaneidade.
Dentro dos valores documentais do monumento posso concluir que apenas existirão monumentos “não intencionados”, já que mesmo algo construído com a intenção de afirmar valores numa determinada época, não o foi com o objectivo de ser relembrada num futuro a longo prazo, tal como as Pirâmides do Egipto (fig.5), embora estas tivessem como alvo a memória da gerações vindouras, apenas num futuro próximo e previsível. Ou como o Pártenon (fig.6), em que o objectivo era uma monumentalidade e culto no seu tempo, embora tenha conservado valores e significado até hoje, ainda que em moldes distintos - o de documento, sendo monumental ao instruir-nos sobre o passado, mas não sobre os valores intrínsecos da obra querendo-os residentes num dia a dia de hoje.
O monumento possui também o Valor de Antiguidade, que se liga à necessidade do Homem encontrar as suas origens, o que lhe confere a tranquilidade necessária à sua saudável permanência num presente, vinda de uma consciência de identidade bem identificada, portanto real e firme, conferindo-lhe, face a qualquer dúvida existencial ou falha, a certeza de uma pertinência passada, e talvez passível de se recuperar.