segunda-feira, abril 19, 2010



Espelho meu...Espelho meu...


A “Beleza” deve ser um dos conceitos mais difíceis de definir. Pode-se tentar, mas nunca se chegará a consenso, nem mesmo na essência do conceito. Não me vou pôr para aqui a discutir Platão mas, na realidade, é algo que está omnipresente nas nossas vidas e, de certa forma, todos procuramos o “belo” em nós próprios e nos outros e nas coisas que nos rodeiam

Também é uma coisa que começa a definir-nos à nascença. Aquilo que mais se ouve família e amigos exclamar ao visitar um recém-nascido é como é bonito (com mais ou menos entusiasmo, consoante a verdade da coisa...).

Depois nos jovens adolescentes, a constatação de se ser diferente por se ser bonito e que pode trazer coisas muito negativas, nomeadamente no que respeita à sociabilização, porque se é “bonito”, os amigos não se fazem com facilidade, em especial com as pessoas do mesmo sexo, enquanto que com o sexo oposto a aproximação é demasiado fácil e todos pretendem a sua companhia, sendo a amizade um logro, pois o interesse é outro.

Mais tarde, na idade adulta o estigma continua e a sociedade, em geral, Machista, associa coisas negativas em especial às mulheres bonitas e tanto mais negativas quanto maior a beleza. As pessoas acham que as mulheres bonitas se sentem superiores (mas são os outros que as vêm assim...) e acham que elas sentem ter a prerrogativa de serem admiradas e amadas, e ter o direito de tratar os outros da maneira como bem entenderem. São consideradas cruéis, pouco inteligentes, egoístas, exigentes e insatisfeitas, frias e arrogantes. E ouvem-se coisas como o que dizia um amigo meu no outro dia: “a vida é muito mais fácil quando se nasce mulher, bonita, alta, magra, loira e de olhos azuis”. Mas é pura mentira…

Na realidade, as mulheres bonitas foram estereotipadas, já para não falar das loiras e como tal sofrem ao longo da sua vida uma série de rejeições simplesmente pelo facto de serem bonitas. Sim – rejeições!

É muito mais difícil provar valor e mérito, porque os outros têm muito mais dificuldade em se distanciarem do que vêem. A partir de certa idade, é muito mais difícil integrar-se socialmente em novos grupos, porque as outras mulheres se sentem ameaçadas e reagem com desconfiança, enquanto os homens entram em “combat mode” de conquista que obriga a mulher bonita que quer ser levada a sério a escolher entre duas opções: mascarar-se de feia, ou ser fria e distante, podendo tornar-se, de facto, antipática ou arrogante.

É sempre um esforço desgastante. Nos relacionamentos amorosos então ainda pior, porque uma mulher bonita se vai tornando, tendencialmente, cada vez mais desconfiada de que o outro a quer apenas pelo que vê.

As mulheres bonitas têm como qualquer pessoa, mais em si e talvez sejam as que mais precisam de se sentirem desejadas pelo que são por dentro. Ou, paradoxalmente, e isto acontece mesmo, a beleza afugenta os homens que as mulheres mais bonitas realmente querem, por não se acharem capazes, ou dignos, de tanta beleza. Claro que também há mulheres bonitas que têm a sorte de ter um percurso mais fácil no campo das (des)ilusões amorosas, porque têm também a sorte de serem pessoas mais completas, ou mais maduras e são de facto pessoas confiantes e seguras de si.

Claro que há muitas mulheres bonitas que aprenderam a viver valendo-se apenas da sua beleza, mas essas são geralmente as que não têm mais nada - e são as que mais mal fazem às suas similares, ao darem sustento ao estigma.
Não é por acaso que existe um ditado que diz “quem feio ama, bonito lhe parece” e não me consta que exista nenhum, que diga que se perdoam e aceitam outros defeitos às mulheres que têm o maior deles: serem, simplesmente bonitas... O mal das mulheres bonitas é que quase ninguém quer encaixar mais nada em "valor" para além da sua "beleza".

1 comentário:

cardosodasilva.eng@gmail.com disse...

Ganda post ! :))) Não por ser grande, mas por ser uma grande e correcta abordagem ao tema. Olha ;))