Como se pode brilhar à meia noite?
Abano o coração ainda
adormecido,
esqueço a canção que
gastei
continuando esta a
viver
secretamente dentro de
mim.
O que me aconteceu não
sei,
não sei do que me
recordar,
embora saiba do que
viver.
Tento arrumar à pressa
os últimos meses
e sair depressa para o
trabalho…
guardo o coração
desperto,
e esqueço a canção
que noto já não passar
na rádio…
em sonhos
ou nas arrojadas
beliscadelas.
Trai-me tanto devido a gatos,
estes meigos são
enquanto os domino.
Mesmo sem gatos
fico com frieiras da
noite fria…
sendo assim mesmo com
luvas,
dizendo as pobres mal
criadas
que me querem saber
ler,
que tenho é coração
partido,
vida em modo
corrompido.
Não o tenho,
talvez só pé dormente
e recusa
de ir para a cama por
estar doente.
Para quê camas
quando se tem quem nos
cante o fado?
Quero cantar a cantiga do meu pastor,
pois é tarde demais
para tudo o que me
lembro,
mesmo para a verdade
crua,
pois nua toda a gente
a aponta.
Lia Ferreira Cardoso
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