domingo, outubro 22, 2006


A Idiota

Ao dar por finda a minha leitura num dado momento da meia noite de ontem, invade-me uma surpresa que era mais por assim se constituir do que pelo facto de onde surgiu. Enfim…agradeço a minha susceptibilidade de olhar para um marcador de livros que diz “Verão 2005” e ficar submersa na nostalgia de um tempo perdido.
Agradeço hoje o facto de viver intensamente os pormenores, coisa que outrora (bem há pouco tempo) me criava tempestades, pois as particularidades mesquinhas estão quase definitivamente trancadas na gaveta. Agradeço lembrar-me exactamente do instante em que apanhava o marcador na Bertrand…”A verdadeira sofisticação que dispensa dobragem de folhas, embora em papelão é gratuita”.
Agradam-me estes últimos dias de fim de semana em que começo a reorganizar a desorganização em que cai ultimamente, e posso afirmar que embora a temesse não transformei isso em ansiedade. Tem-me ido ao gosto “O Idiota” de Fiodor Dostoiévki, que, embora ande a achar que é de um existencialismo suave, que não nos coloca dentro de um “sentir” pretendido com a história, ou narrativa, como Virgílio Ferreira faz, ainda assim é agradável e ilustrativo, até ralaxante e de fácil leitura, o que é de admirar, pois dentro disto não é um exemplo paradigmático do existencialismo que conheço.
Agrada-me agradar-me, enfim, um livro que demorou a começar ser lido pelo desconforto da “diferença” dada pelos nomes das personagens, algo excêntricos para uma portuguesinha sem cultura, até porque esquecendo toda esta dificuldade, identifico-me com a personagem principal, o idiota, não lhe chamando assim, mas simplesmente ingénuo, sendo esta a prova da semelhança…pois cai em defesa.

3 comentários:

Anónimo disse...

A pureza, o idealismo,a paixão e a tragédia com que Dostoiévski narra o Idiota, está na linha(salvaguardadas as devidas proporções)dos relatos que a Bíblia faz do Homem Bom, crucificado.

Anónimo disse...

é bom que nos percamos em pormenores.esses pormenores fazem da nossa vida uma caixinha de surpresas agradáveis.

em relação ao existencialismo literário, sinceramente também não acho que Dostoiévki seja um existencialista por natureza;

quanto a Virgilio Ferreira,
é magnífico!!! já li uns quantos livros carregados dessa ambiência que é tão dele e me delicia. recomendo-te um que a meu ver é uma obra-prima, "alegria breve".

os mais sinceros cumprimentos!

Anónimo disse...

Não me parece que o sejas. Lembro-me bem de ter lido e relido há bem pouco tempo O Idiota, e este a meu ver tinha alguma falta de decisão e vontade própria, a par de uma confiança ilimitada naqueles que o rodeiam. Não me parece de todo, a tua forma de ser. No entanto alguns sentimentos e bondade de Míchkin, podem ser comuns a todos nós. Daí sentires que a personagem te é intrinsecamente familiar.