A uma tarde de sexta-feira que
mais se assemelha a uma noite de domingo, com o futebol sempre como saída do
beco, onde afinal é praça que abraça o Tejo e a mim. Nela Pessoa perdido não se
fez rogado em deixar num copo vazio e numa meia-noite de lua nova, a saudade de
todos os seus rostos, que em cada português, dançante do fado, deixa, mesmo por
segundos. Praça do Comércio. Tanto me vendes, com tão bom vinho me enganas.
Decerto não a mim somente.
Não sei por onde andei, sei
apenas que acabei a jantar na cidade de Tomar, ao começar da noite num tão
maravilhoso convento, onde até D. Manuel, por Cristo, pecou…em beleza.
Sempre a dormir andei, depois
disso, até que me encontrei num rodopio de jogos tradicionais, que a mais não
foram, onde a gula passa por etiqueta numa quinta a que se dá o nome de Gaio de
Baixo, e onde o touro é mais do que macho.
Agora bem sei, pela Vala Real
rodei, até fazer a Rota dos Mouchões, no rio que não só à cidade da luz
pertence, mas às garças que não tiram a graça aos cavalos lusitanos, sadiamente
vagueando pelo seu respectivo mouchão, ocupando também, depois, a saborosa Casa
Branca, simultaneamente modesta e franca que sensualmente habita a margem do
rio, contando histórias ao calor do viajante que nela se queira prolongar.
Depois das águas em Águas Moura
me encantei, entre barricas e vinhos deliciosos da Casa Ermelinda Freitas, que
nada têm de água, para quem acredita que água não tem seu sabor…. este vinho traz
o labor de grandes mulheres, sendo esta bebida sangue que escorre depois do
suor de seus corpos fazerem amor e darem à luz este alimento do seu coração.
Lia Cardoso